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Diálogo – Uma Proposta
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Por que Diálogo
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Propósito e significado
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O que Diálogo não é
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Como iniciar um Diálogo
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Suspensão
- Números
- Duração
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Liderança
- A
questão do
tema
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Diálogo em organizações já
existentes
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Nota de Direitos Autorais
O
Diálogo, do modo como estamos escolhendo usar a palavra,
é um caminho para examinar as raízes das diversas crises que a
humanidade
enfrenta nos dias de hoje. Através do diálogo é possível investigar e
compreender aqueles processos que fragmentam e interferem na
comunicação real
entre indivíduos, entre nações e até entre diferentes partes de uma
mesma
organização. Na nossa cultura moderna, os homens e mulheres interagem
de muitas
formas — podem facilmente cantar, dançar ou brincar uns com os outros.
Mas quando
falam sobre assuntos que têm importância e profundidade, parece que
sempre surgem
disputas, divisões e até mesmo violência. Em nossa visão, essa condição
aponta para
um defeito profundo e abrangente no processo do pensamento humano.
No Diálogo, um
grupo de pessoas pode investigar os pressupostos, idéias, crenças e
sentimentos,
tanto individuais quanto coletivos, que sutilmente controlam as suas
interações.
Ele nos oferece uma oportunidade de participar em um processo que
evidencia os
sucessos e falhas da comunicação. Pode revelar os padrões de
incoerência muitas
vezes desconcertantes que levam o grupo a evitar certas questões ou,
por outro
lado, levam-no a insistir de modo totalmente irracional na defesa de
determinadas
opiniões quanto a certos assuntos.
O Diálogo
é uma maneira de observar coletivamente o
controle exercido por valores e intenções ocultos sobre o nosso
comportamento,
e de conscientizarmo-nos que diferenças culturais não percebidas podem
colidir
sem que percebamos o que está acontecendo. Assim, pode ser visto como
uma arena
em que acontece o aprendizado coletivo, na qual pode surgir um senso
maior de
harmonia, companheirismo e criatividade.
Como a
natureza do Diálogo é investigativa, seu
significado e métodos continuam a se revelar. Não se pode estabelecer
regras
rígidas para a condução do Diálogo porque ele é essencialmente
aprendizagem —
não como resultado do consumo de um corpo de informações ou uma
doutrina
comunicada por uma autoridade, nem como meio de examinar ou criticar
uma
particular teoria ou programa, mas como parte de um processo de
participação
criativa entre pares que está em contínuo desenvolvimento.
No
entanto, sentimos que é importante que esse significado
e seu pano de fundo sejam compreendidos.
Nossa
abordagem a esta forma de Diálogo surgiu de uma
série de conversas iniciadas em 1983, em que refletimos sobre a
sugestão de
David Bohm de que as infindáveis crises que afetam a humanidade têm
como causa
essencial uma incoerência amplamente disseminada no processo do
pensamento
humano. Isso nos levou, nos anos seguintes, a iniciar uma série de
conversações
e seminários, em diversos países e com vários grupos humanos, que
começou a tomar
a forma de diálogos.
À medida
que seguíamos, ficava cada vez mais claro para
nós que este processo de Diálogo é um meio poderoso de compreender como
funciona o pensamento. Percebemos que vivemos em um mundo que é quase
inteiramente
produzido pelo pensamento e pelo empreendimento humanos. A sala onde
estamos
sentados, o idioma em que estas palavras são escritas, as fronteiras da
nossa
nação, os nossos sistemas de valores, e até mesmo aquilo que pensamos
ser as
nossas percepções diretas da realidade, são essencialmente
manifestações do modo
como os seres humanos pensam e pensaram. Percebemos que se não nos
dispusermos a
investigar esta situação para obter uma profunda visão e conhecimento
sobre
ela, não conseguiremos confrontar as crises reais do nosso tempo, nem
encontraremos
mais do que soluções temporárias para a vasta coleção de problemas
humanos com
que nos defrontamos agora.
Ao usar
aqui o termo “pensamento”, queremos referir-nos
não apenas aos produtos do nosso intelecto, mas também aos nossos
sentimentos,
emoções, intenções e desejos. Incluímos aqui, além disso, as
manifestações
sutis e condicionadas da aprendizagem, como as que nos permitem dar
sentido a
uma sucessão de cenas separadas de um filme de cinema, ou traduzir os
símbolos
abstratos nas placas de sinalização das estradas. Acrescente-se também
os
processos tácitos e não-verbais usados no desenvolvimento de
habilidades como, por
exemplo, andar de bicicleta. Do modo como usamos a palavra, o
pensamento é essencialmente
a resposta ativa da memória em cada fase da vida. Virtualmente todo o
nosso
conhecimento é produzido, exibido, comunicado, transformado e aplicado
no
pensamento.
Para
esclarecer mais esta abordagem, fazemos a seguinte
proposição: observado com um pouco mais de atenção, até aquilo que
chamamos de
pensamento racional pode ser visto como sendo extensamente formado por
respostas condicionadas, e influenciado ou enviesado por pensamentos
prévios,
anteriores. Ao olharmos cuidadosamente para aquilo que geralmente
tomamos por
realidade, começamos a perceber que ela inclui uma série de conceitos,
memórias
e reflexos coloridos pelas nossas necessidades, medos e desejos
pessoais, todos
limitados e distorcidos pelas fronteiras da linguagem e hábitos da
nossa
história, sexo e cultura. É extremamente difícil decompor essa mistura
ou
chegar a alguma certeza sobre se o que percebemos — ou o que pensamos
sobre
essas percepções — tem qualquer precisão ou exatidão.
O que
torna essa situação tão séria é o fato de que o
pensamento geralmente oculta esses problemas da nossa percepção
imediata
gerando a idéia de que a maneira pela qual cada um de nós interpreta o
mundo é
o único modo sensato de fazê-lo. É necessário um procedimento pelo qual
possamos desacelerar o processo de pensamento para poder observá-lo enquanto acontece — em “tempo real”.
Nossos
corpos físicos têm essa capacidade mas,
aparentemente, o pensamento não. Ao levantar seu braço, você sabe que
esse é um
ato voluntário seu, e que nenhuma outra pessoa está fazendo esse
movimento.
Podemos perceber as ações e movimentos corporais enquanto estão
ocorrendo, mas no
domínio do pensamento geralmente essa habilidade nos falta. Por
exemplo, não
notamos que a nossa atitude para com alguém pode ser profundamente
afetada
pelos sentimentos e reações que temos frente a uma outra pessoa que tem
certos
traços em comum com a primeira — podem ser certos comportamentos que
ela tem,
ou até mesmo a sua aparência. Em vez disso, partimos do pressuposto de
que a
nossa atitude surge diretamente da sua conduta mesma. O problema do
pensamento
é que, ao que parece, o tipo de atenção que é requerida para notar
essas
incoerências raramente está disponível nos momentos em que é mais
necessária.
O Diálogo
oferece um espaço no qual essa atenção pode
acontecer. Ele permite a exposição do pensamento e do significado que
tornam
possível um tipo de propriocepção
coletiva, e uma devolução imediata tanto do conteúdo do
pensamento quanto
das estruturas dinâmicas menos aparentes que o governam. No Diálogo
isso pode
ser experimentado tanto individual quanto coletivamente. Cada ouvinte
pode devolver
a quem expõe e ao resto do grupo a sua percepção sobre os pressupostos
e
implicações não verbalizados que estão subjacentes ao que está sendo
expresso, e
também aquilo que percebe que está sendo evitado. Cada participante,
com isso,
tem a oportunidade de examinar os preconceitos, as concepções prévias e
padrões
característicos que subjazem aos seus pensamentos, opiniões, crenças e
sentimentos, bem como aos papéis que habitualmente desempenha. E o
Diálogo oferece
ainda a oportunidade de compartilhar esses insights.
A palavra
“diálogo” deriva de duas raízes: “dia”, que
significa “através de”, e “logos”, que significa “palavra”, ou, mais
particularmente, “o significado da palavra”. A imagem aqui é a de um
fluxo de
significado que acontece entre os participantes e por meio deles.
Podem-se
envolver tantas pessoas quantas se queira no Diálogo — pode-se
até ter um
Diálogo consigo mesmo — mas o tipo de Diálogo que sugerimos propõe um
grupo de
vinte a quarenta pessoas, sentadas em círculo para conversar.
Pode-se
encontrar algo similar ao significado de um
Diálogo assim nos relatos de grupos de caçadores, mais ou menos nesse
número, que
se reúnem para conversar, sem uma agenda explícita ou propósito
pré-determinado. Ao que parece, esses encontros, mesmo com essas
características, criam e mantêm laços muito coesos, muita camaradagem,
fazendo
com que os participantes saibam o que se espera deles sem que tenham
recebido
instruções para isso e sem muita troca verbal. Em outras palavras,
emerge
dentro do grupo o que se pode chamar de uma “cultura coerente de
significado
compartilhado”. É possível que essa coerência tenha existido no
passado, nas comunidades
humanas, antes que a tecnologia começasse a mediar a nossa experiência
do mundo
vivo.
Dr.
Patrick de Mare, um psiquiatra de Londres, fez um
trabalho pioneiro muito semelhante, em condições modernas. Criou grupos
mais ou
menos desse mesmo porte, com o propósito de realizar o que chamou de
“sócio-terapia”. Para ele, uma causa primeira da profunda e penetrante
doença
da nossa sociedade pode ser encontrada no nível sócio-cultural, e
grupos assim
podem servir como micro-culturas em que é possível expor a fonte da
enfermidade
da nossa grande civilização. Nossa experiência nos levou a estender
essa noção
de Diálogo enfatizando e dando especial atenção ao papel fundamental da
atividade
do pensamento na origem e manutenção desse conflito.
Como um
microcosmo dessa grande cultura, o Diálogo permite
que se revele um amplo espectro de relacionamentos possíveis. É
possível expor
o impacto da sociedade no indivíduo e o do indivíduo na sociedade. É
possível mostrar
como o poder é assumido ou não, e quão penetrantes são as regras
não-percebidas
do sistema que constitui nossa cultura. Mas o Diálogo está mais
profundamente
interessado em compreender a dinâmica de como o pensamento origina tais
conexões.
Ele não
está interessado em deliberadamente tentar alterar
ou transformar o comportamento, e nem em fazer com que os participantes
se
dirijam a uma determinada meta ou objetivo. Qualquer tentativa assim
distorce e
obscurece os processos que o Diálogo se propõe a investigar. Mesmo
assim,
mudanças de fato ocorrem, porque o
pensamento observado se comporta diferentemente do não-observado.
Assim, o diálogo
pode tornar-se uma oportunidade para dar livre curso aos pensamentos e
sentimentos, num contínuo de significado mais profundo ou mais geral.
Qualquer
tema pode ser incluído e não se exclui nenhum conteúdo. Uma atividade
assim é
muito rara na nossa cultura.
Normalmente
as pessoas se reúnem ou para realizar uma
tarefa ou para se divertir, sendo que ambas as atividades podem ser
categorizadas
como propósitos predeterminados. Mas pela sua própria natureza o
Diálogo não é
compatível com nenhum propósito além do interesse dos seus
participantes em revelar
e evidenciar os significados coletivos mais profundos. Estes podem, às
vezes,
ser divertidos, esclarecedores, levar a novos insights ou encaminhar
problemas
existentes. Mas, surpreendentemente, o Diálogo, em seus estágios
iniciais,
levará freqüentemente à experiência da frustração.
Um grupo
de pessoas convidadas a dar seu tempo e atenção
séria a uma tarefa que não tem objetivo aparente e que não está sendo
conduzida
em alguma direção perceptível pode rapidamente descobrir-se vivenciando
muita
ansiedade ou achando tudo isso muito maçante... e alguns possivelmente
terão
desejo de encerrar o grupo, ou de tentar exercer controle sobre ele e
dar-lhe
uma direção. Propósitos previamente desconhecidos revelam-se.
Sentimentos
fortes são expostos, junto com os pensamentos subjacentes a eles. As
pessoas
podem tomar posições fixas, e freqüentemente ocorrem polarizações. Tudo
isso é
parte do processo. É o que sustenta o Diálogo e o mantém constantemente
criativo em novos domínios.
Numa
reunião com vinte a quarenta participantes podem
ocorrer extremos de frustração, raiva, conflito ou outras dificuldades;
mas com
este tamanho de grupo pode-se dar continente a tais problemas com
relativa
facilidade. Na realidade, eles podem se tornar o foco central da
investigação,
no que pode ser compreendido como um tipo de “meta-diálogo”, que tem
como
objetivo clarificar o próprio processo do Diálogo.
À medida
que aumentam a experiência e a sensibilidade,
emerge uma experiência de significado compartilhado, em que as pessoas
não se
opõem umas às outras, e também não estão simplesmente interagindo. O
aumento da
confiança entre os membros do grupo — e no próprio processo — leva à
expressão
dos pensamentos e sentimentos normalmente mantidos em segredo. Nenhum
consenso é
imposto, e nem ocorre qualquer tentativa de evitar conflitos. Nenhum
indivíduo
ou sub-grupo é capaz de conseguir predominância, porque todos os temas,
inclusive
a dominância e a submissão, sempre podem ser colocados em foco.
Os
participantes descobrem que estão envolvidos em um lago
de significado comum, sempre mutável e em desenvolvimento. Emerge um conteúdo compartilhado de
consciência,
permitindo um nível de criatividade e insight
que normalmente não é possível para indivíduos ou grupos que interagem
de
maneiras mais conhecidas. Isso revela um aspecto do Diálogo que Patrick
de Mare
chamou de koinonia, uma palavra que
significa a antiga forma de democracia ateniense em que todos os homens
livres
da cidade reuniam-se para governarem a si próprios.
À medida
que essa camaradagem se torna experiência, começa
a ter precedência sobre o conteúdo mais aberto da conversação (sic). É
um
estágio importante do Diálogo, um momento em que a coerência é cada vez
maior,
o grupo é capaz de ir além dos bloqueios e limitações que identifica e
entrar
num território novo. Mas é também um ponto em que um grupo pode começar
a
relaxar e acomodar-se no “barato” que acompanha a experiência. Este é o
ponto
em que normalmente há alguma confusão entre o Diálogo e algumas formas
de
psicoterapia. Os participantes podem querer manter o grupo unido para
preservar
o agradável sentimento de segurança e de pertencimento que acompanha
esse
estado. Isso é similar ao sentimento de comunidade freqüentemente
atingido em
grupos de terapia ou workshops de “team building”, e é tomado como
prova do
sucesso do método usado. Além desse ponto, entretanto, há reinos ainda
mais
significativos e sutis da criatividade, inteligência e compreensão, que
só
podem ser atingidos pela persistência no processo de investigação e
arriscando
re-entrar em áreas em que há uma incerteza potencialmente caótica ou
frustrante.
O diálogo
não é discussão, palavra que tem a mesma raiz de
“percussão” e “concussão”, ambas ligadas a quebrar, fragmentar. Também
não é debate.
Essas formas de conversação contêm uma tendência implícita de
dirigir-se para
uma meta, martelar um acordo, tentar resolver um problema ou fazer a
própria
opinião prevalecer. Também não é “conversa de salão”, uma forma de
encontro
informal e freqüentemente se caracteriza por ter a intenção de
divertir, trocar
amizades, fofocas e outras informações. Apesar do termo “diálogo”
comumente ser
usado com significado parecido, seu significado raiz, mais profundo,
indica que
ele não está primordialmente interessado em nenhuma destas modalidades
de
encontro.
Diálogo
não é um novo nome para T-grupos ou “sensitivity
training”, ainda que seja superficialmente similar a estas e outras
formas
relacionadas de trabalho de grupo. Suas conseqüências podem ser
psicoterapêuticas,
mas ele não tenta focar na remoção de bloqueios emocionais de qualquer
participante nem ensinar, treinar ou analisar. No entanto, é uma arena
em que o
aprendizado e a dissolução de bloqueios podem acontecer — e
freqüentemente
acontecem. Não é uma técnica de resolução de problemas ou conflitos,
ainda que
muitos problemas possam ser solucionados ao longo do processo de
Diálogo, ou
talvez depois, como resultado de uma compreensão e companheirismo
maiores que
se estabelecem entre os participantes. É, como enfatizamos,
primeiramente um
modo de explorar o campo do pensamento.
O Diálogo
lembra várias outras formas de atividade em
grupo e pode às vezes incluir alguns aspectos delas, mas de fato é algo
novo
para a nossa cultura. Acreditamos que é uma atividade que pode muito
bem vir a
provar-se vital para a futura saúde da nossa civilização.
Suspensão
A
suspensão de pensamentos, impulsos, julgamentos, etc. é
o coração do Diálogo. É um dos seus aspectos novos mais importantes.
Não é fácil
de atingir porque é ao mesmo tempo sutil e pouco familiar. Suspensão
implica em
atenção, ouvir e ver, e é essencial à investigação. Falar é necessário,
é
claro, pois sem falar haveria pouco a explorar no Diálogo. Mas o
processo real
de investigação ocorre durante o ouvir
— não apenas aos outros, mas a si mesmo. A suspensão implica em expor
as
próprias reações, impulsos, sentimentos e opiniões de maneira tal que
possam
ser vistos e sentidos em nossa própria psique, e também ser refletidos
de volta
por outros no grupo. Não quer dizer reprimi-los ou suprimi-los, e nem
mesmo
adiá-los. Significa simplesmente dar-lhes a nossa total atenção para
que as suas
estruturas possam ser percebidas no próprio momento em que acontecem.
Se você for
capaz de prestar atenção, digamos, aos fortes sentimentos que podem
acompanhar
a expressão de um determinado pensamento (seu ou dos outros) e
conseguir manter
essa atenção, a atividade do processo de pensamento tende a
desacelerar. Com
isso, você pode começar a ver os significados mais profundos
subjacentes ao seu
processo de pensamento e sentir a estrutura muitas vezes incoerente de
qualquer
ação que, de outro modo, você realizaria automaticamente. Da mesma
maneira, se
um grupo é capaz de suspender tais sentimentos e prestar atenção a
eles, o
processo geral que flui do pensamento para o sentimento, e daí para o acting-out dentro do grupo, pode também
desacelerar e mostrar seus sentidos mais sutis e mais profundos, junto
com as
suas distorções implícitas, levando ao que poderia ser descrito como um
novo
tipo de inteligência coletiva e coerente.
Suspender
o pensamento, o impulso, o julgamento, etc.
requer séria atenção ao processo geral que consideramos — em nós
próprios e
dentro do grupo. Isso implica em algo que parece à primeira vista um
tipo de
trabalho árduo. Mas se conseguirmos mantê-lo, a nossa capacidade de
prestar esse
tipo de atenção se desenvolve continuamente, e cada vez é necessário
menos
esforço.
Um
Diálogo funciona melhor com 20 a 40 participantes,
sentados
Em alguns
grupos tivemos até sessenta participantes, mas
com um número elevado assim o processo se torna praticamente inviável.
São
necessários dois círculos concêntricos para acomodar todos de maneira a
poderem
ver e ouvir uns aos outros. Isso coloca os que estão sentados atrás em
desvantagem, e menos participantes têm a oportunidade de falar.
Pode-se
mencionar aqui que alguns participantes tendem a
falar muito, enquanto outros têm dificuldade em expressar-se
Um
Diálogo necessita algum tempo para pôr-se em andamento.
É uma forma incomum de participar com os outros e é necessário fornecer
alguma
forma de introdução em que o significado todo da atividade possa ser
comunicado. Mas mesmo com uma introdução clara, ao começar a falar o
grupo passa
por muitos momentos de confusão, frustração, e uma preocupação
inibidora sobre
se estão ou não praticando Diálogo. Seria muito otimista assumir que um
Diálogo
comece e atinja alguma grande profundidade no primeiro encontro. É
importante
ressaltar que é preciso perseverança.
Ao
iniciar Diálogos é útil, no começo, entrar em um acordo
quanto à duração da sessão, e encarregar alguém de marcar o tempo no
final do
encontro. Descobrimos que cerca de duas horas é um tempo ótimo. Sessões
mais
longas arriscam o fator fadiga, que tende a diminuir a qualidade da
participação. Muitos T-grupos usam extensas “maratonas” que usam essa
fadiga
para quebrar algumas das inibições dos participantes. O Diálogo, por
outro
lado, está mais interessado em explorar os construtos sociais e
inibições que
afetam as nossas comunicações do que tentar desviar deles.
Quanto
mais regularmente o grupo se encontrar, mais
profundo e significativo será o território explorado. Usa-se
freqüentemente o
fim-de-semana para fazer várias sessões em seguida, mas se o desejo é
fazer Diálogo
por um tempo mais longo, sugerimos que haja ao menos uma semana de
intervalo
entre uma sessão e outra, para que haja tempo para as reflexões e
aprofundamentos individuais. Não há limite para o tempo de duração de
um grupo
de Diálogo e para a sua investigação. Mas seria contrário ao espírito
do
Diálogo que ele se torne fixo ou institucionalizado. Isso demanda
abertura à
constante mudança de membros, de horários ou outras manifestações de
uma
atitude séria no sentido de evitar que uma rigidez implícita possa se
estabelecer. Ou, até, abertura para a dissolução do grupo após um certo
período.
Um
Diálogo é essencialmente uma conversação entre iguais.
Qualquer autoridade controladora, não importa quão cuidadosa ou
sensivelmente
aplicada, tende a inibir e atrapalhar a livre manifestação do
pensamento e os sentimentos
muitas vezes delicados e sutis que de outro modo seriam compartilhados.
O Diálogo
é vulnerável à manipulação, mas seu espírito não é compatível com ela.
Não há lugar,
no Diálogo, para hierarquias.
No
entanto, nos estágios iniciais alguma liderança é
necessária para ajudar os participantes a perceberem as sutis
diferenças entre
o Diálogo e outras formas de processo de grupo. É essencial a presença
de pelo
menos um, ou preferivelmente dois, facilitadores experientes. O papel
destes
facilitadores é ocasionalmente indicar situações que aparentemente
estejam indicando
ao grupo pontos paralisadores, ou, em outras palavras, ajudar o
processo de
propriocepção coletiva. Mas essas intervenções nunca devem ser
manipuladoras ou
obtrusivas. Os líderes são participantes como quaisquer outros. A
liderança,
quando for sentida como necessária, deve tomar a forma de “liderar nos
bastidores” e preservar a intenção de ser dispensável assim que for
possível.
No
entanto, essa proposta não substitui a presença de
facilitadores experientes. Sugerimos, mesmo assim, que este texto seja
lido com
o grupo no seu encontro inicial, de modo que todos os participantes
possam
ficar seguros de que estão embarcando no mesmo experimento.
O Diálogo
pode começar com qualquer tópico de interesse
para os participantes. Se alguns membros do grupo sentem que certas
trocas ou
temas são perturbadores ou inadequados, é importante que expressem
esses
pensamentos no Diálogo. Nenhum conteúdo deve ser excluído.
Muitas
vezes os participantes farão fofocas ou expressarão
a sua insatisfação ou frustração após um encontro, mas é exatamente
esse tipo
de material que oferece o solo mais fértil para levar o Diálogo a
reinos mais
profundos de significado e a uma coerência situada além da
superficialidade de
um “pensamento de grupo”, das boas maneiras ou de uma conversa de
jantar.
Até aqui
estivemos examinando principalmente Diálogos que
reúnem indivíduos de vários backgrounds diferentes, e não de
organizações já existentes.
Mas o seu valor também pode se sentir em membros de uma organização,
como modo
de aumentar e enriquecer a criatividade corporativa.
Nesse
caso o processo de Diálogo muda consideravelmente.
Membros de uma organização assim já terão desenvolvido vários tipos de
relacionamento entre companheiros de trabalho e com a sua organização
como um
todo. Aqui pode haver uma hierarquia pré-existente, ou pode ocorrer uma
necessidade de proteger os colegas, o grupo ou o departamento. É
possível que
haja medo de expressar pensamentos que sejam vistos como críticas aos
que estão
acima na organização, ou às normas da cultura organizacional. Talvez
certos
indivíduos sintam ameaçadas as suas carreiras ou a aceitação social que
têm, ao
participarem em um processo que enfatiza a transparência, a abertura, a
honestidade,
a espontaneidade e o tipo de interesse profundo pelos outros que pode
trazer à
tona áreas vulneráveis — às vezes mantidas ocultas por muito tempo.
Em uma
organização já existente, o Diálogo provavelmente
terá que começar por uma investigação sobre todas as dúvidas e medos
que a
participação certamente eliciará. Talvez o início aconteça com uma
agenda mais
ou menos específica, que futuramente poderá ser mudada. Isso difere da
abordagem usada com grupos formados por pessoas que participam
voluntariamente,
ou apenas uma vez, e que estão livres para começar a partir de qualquer
tema.
Mas, como mencionamos, nenhum conteúdo deve ser excluído porque o
impulso para
excluir um tema é em si um rico material para investigação.
Muitos
organizadores têm propósitos e metas implícitos e
predeterminados que raramente são questionados. De início, essas idéias
também
podem parecer incompatíveis com o jogo livre e aberto do pensamento que
é tão
intrínseco ao processo do Diálogo. No entanto, esse inconveniente
também pode
ser superado ajudando os participantes desde o início a perceberem que
examinar
esses temas pode se provar essencial para o bem-estar da organização.
Levá-los
em conta, além disso, também pode ajudar a melhorar a auto-estima
desses
participantes, e o respeito com que são vistos pelos outros.
O
potencial criativo do Diálogo é grande o bastante para
permitir uma suspensão temporária de quaisquer estruturas e
relacionamentos constituintes
de uma organização.
Finalmente,
queremos deixar claro que não propomos o
Diálogo como uma panacéia, nem como método ou técnica para substituir
as outras
formas de interação social. Nem todos o acharão útil, e ele não o será
em todos
os contextos. Há grande valor em muitos métodos psicoterapêuticos e há
muitas
tarefas que exigem liderança firme e uma estrutura organizacional muito
bem
formada.
Muito do
tipo de trabalho que descrevemos aqui pode ser
realizado independentemente, e estimulamos esse proceder. Várias das
idéias
desta proposta são ainda temas da nossa investigação contínua. Não
aconselhamos
que sejam tomadas como fixas, mas que também sejam questionadas, como
parte do
seu próprio Diálogo.
O
espírito do Diálogo é brincar e jogar livremente, um
tipo de dança coletiva da mente que, entretanto, tem imenso poder e
revela um propósito
coerente. Uma vez começado, torna-se uma aventura contínua que pode
abrir
caminho para uma mudança criativa e cheia de significado.
Copyright ©
1991 – David Bohm, Donald Factor e Peter Garrett
Os detentores dos direitos autorizam a cópia deste
material e a sua
distribuição para fins não-comerciais, incluindo discussão, pesquisa,
crítica e
como ajuda para montar grupos de Diálogo, desde que ele não seja
alterado e que
esta nota seja incluída. Todos os outros direitos reservados.
Se
você ler a nota de direitos autorais
em “Diálogo — uma Proposta” (reproduzida acima) verá que desejamos que
sua
mensagem seja distribuída o mais amplamente possível. Assim, se há
listas de
discussão ou sites FTP ou WWW em que este texto possa ser útil, por
favor
divulgue. Gostaríamos de saber onde ele vai parar, se isso for
possível.
Queremos manter a nota de direitos intacta porque afirma que ele não
deve ser
usado sem permissão expressa para qualquer propósito comercial.
Sarah
Bohm
Don
Factor
Peter
Garrett