Dessa maneira, o Diálogo é uma forma de fazer circular sentidos e significados. Isso quer dizer que quando o praticamos a palavra liga em vez de separar. Reúne em vez de dividir. Assim, o Diálogo não é um instrumento que busca levar as pessoas a defender e manter suas posições, como acontece na discussão e no debate. Ao contrário, sua prática está voltada para estabelecer e fortalecer vínculos e ligações, e a formação de redes; para a identificar, explicitar e compreender os pressupostos que dificultam a percepção das relações. Daí o nome de "redes de conversação", proposto para as experiências de reflexão conjunta, geração de idéias, educação mútua e produção compartilhada de significados.
O Diálogo é, por excelência, o processo através do qual identificamos e questionamos idéias e posições cristalizadas — os pressupostos sobre os quais se apóiam os nossos julgamentos, escolhas, preferências, ações. O Diálogo é mais do que uma técnica: é uma maneira de conduzir conversações que traz uma nova visão de mundo, de relacionamentos e de processos. Ao mesmo tempo, retoma práticas ancestrais de contato e de integração de grupos.
Pensamos que sabemos dialogar, mas há muito mais a explorar nesse campo do que aprendemos na educação familiar ou formal, por exemplo. Uma parte enorme das interações do dia-a-dia, e daquilo que produzem, pode ser significativamente melhorada com a aprendizagem do Diálogo — seja no trabalho, na família, com as pessoas próximas, e até consigo mesmo. No outro extremo, a aprendizagem do Diálogo também favorece o contato entre instituições, culturas e países. Normalmente traduzimos o significado do Diálogo como negociação, barganha, ou debate envolvendo posições ou interesses conflitantes. Mas aqui referimo-nos a um Diálogo qualificado, uma forma de conversação destinada a fortalecer ligações e aprofundar as percepções que temos delas. Esse Diálogo, pouco praticado, é pré-requisito para essas negociações e contatos.
Para dialogar, o essencial é reaprender a ouvir. O excesso crônico e desequilibrado de ação no mundo atual nos deixa com um déficit nessa capacidade de realmente ouvir o outro. Ouvir é um processo ativo, em que aquele que ouve participa da qualidade da fala que está sendo construída; uma fala que é ouvida empaticamente atinge profundidades muito maiores. Essa qualidade ativa do ouvir fica evidente na pergunta: você já tentou falar alguma coisa a alguém que realmente não quer ouvir? Ouvir é, no Diálogo, pelo menos tão importante quanto falar.
A postura dialógica promove:
Ao contrário do que muitos pensam, dialogar requer aprendizado. Esse aprendizado se compõe de uma série de atividades que podem ser destacadas em dois passos principais:
O Diálogo busca suprir uma lacuna profunda das conversações da nossa civilização atual. Aprendemos a pensar, e consequentemente a falar, competitivamente, cartesianamente, de maneira narcisística, sem verdadeiramente incluir a subjetividade e o Outro que é diferente de nós. Julgamos, e assim afastamo-nos radicalmente da empatia e da compaixão. A nossa fala é usada mais para separar do que para unir.
A riqueza do Diálogo consiste em ser uma conversação que tem como característica aproximar pessoas, grupos, fortalecer os vínculos a partir da experiência autêntica.
Uma sessão de Diálogo é um convite à emergência de idéias novas, novos significados, mais compreensão sobre questões em que a mera lógica cartesiana ou os hábitos mentais estabelecidos não conseguem penetrar. Esses hábitos, que são condicionamentos sociais, são altamente conservadores, no sentido de apresentarem resistência à mudança pelos métodos habituais de resolução de problemas ou conflitos. Dialogar permite perceber e pensar velhas questões de modo diferente.
O questionamento básico do Diálogo é simples: o que temos como certo e fora de dúvida nem sempre é o único modo de perceber o mundo. A pergunta-chave a ser feita é: "E se suspendermos ao menos temporariamente os nossos modos habituais de pensar, nossas ‘certezas’, e conversarmos livremente para ver o que acontece?" Trata-se, assim, de se tornar consciente do modo habitual de olhar, ampliar a consciência, observar a partir de outros ângulos, pensar os mesmos problemas de modo diferente.
Em geral, os saberes, pontos de vista e práticas mais especializados se transformam em estruturas verticalizadas que, dada a sua natureza, desenvolvem linguagens e jargões que os tornam pouco acessíveis aos não especialistas. O pensamento complexo e o Diálogo religam essas experiências, saberes, pontos de vista ou práticas que por alguma razão foram fragmentados.
Ao contrário do pensamento linear, o pensamento complexo não opta pela simplificação e pela especialização. Prefere a simplicidade e a pluralidade. A simplicidade reconhece a complexidade e aparece quando aprendemos a lidar com esta. A pluralidade reconhece o valor das especialidades, e procura saberes que possam interligá-las.
Assim, o Diálogo tem tudo a ver com o pensamento complexo. Ele é o pensamento complexo posto em prática. Multiplicar os observadores e os seus pontos de vista, e fazer com que eles interajam, tudo isso traz como resultado a percepção ampliada das propriedades novas que emergem espontaneamente nas conversações.